sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A triste pecadora


Os antigos viam o mundo dividido em duas metades: a masculina e a feminina. Seus deuses e deusas agiam no sentido de manter um equilíbrio de poderes. Quando masculino e feminino, Yin e Yang, estavam equilibrados, havia harmonia no mundo. Quando se desequilibravam, estabelecia-se o caos. A exaltação ao feminino estava presente até mesmo no jogo de cartas medieval, onde haviam arcanos denominados A Papisa, A Imperatriz e A Estrela, tendo o Ouros como naipe representativo da divindade feminina (BROWN, 2004, p. 43). 

Desde o princípio ouvimos histórias que são passadas através de gerações á respeito de como viemos ao mundo e com que propósito. Devemos aceitar tudo aquilo que nos foi dito e acreditar como se fosse a mais absoluta verdade. Mas qual é realmente a verdade? O que realmente nos prova a existência de Deus? Não estou aqui para criticar nenhuma religião nem desmerecer aos seus seguidores, mas para questionar a posição da mulher na sociedade ao longo de séculos, o que realmente há por trás de todos esses anos de exploração e subordinação.

Agora vamos viajar no tempo, lá atrás, bem além do surgimento do cristianismo, onde viviam os devotos da grande deusa. Pagãos celebravam o ciclo da vida e veneravam á mãe terra por todas as suas recompensas. Grandiosa era a mãe de todos, o sagrado feminino, a adoração á natureza. A mulher era um ser iluminado, dotada de dons especiais. Quando tudo parecia estar no mais puro equilíbrio, surge então a supremacia patriarcal, passou a denegrir e hostilizar a imagem da deusa e a perseguir e punir todas as suas filhas. Aqueles que fosse pegos praticando qualquer forma de ritual ligado á deusa era punido com a morte sob alegação de heresia. Passava-se então a adorar ao pai e a negar a mãe. E assim começava o ciclo do terror. Milhares de mulheres foram perseguidas e mortas.



Deusa mãe representando a Natureza


Temos como exemplo o famoso caso de Salem, um vilarejo da Colônia americana da nova Inglaterra, que resultou em quase 20 mortos sob acusação de bruxaria, simplesmente porque uma epidemia de uma doença assolava o local e a medicina não encontrava explicação para tais acontecimentos. Afirmavam que a cidade fora tomada pelo próprio demônio. 



Julgamento de Salem

Aconteceu também o caso dos Templários, a ordem dos cavaleiros de Cristo, que foram acusados de heresia por adorarem a imagem de um deus pagão, Baphomet, o deus da fertilidade. O papa Clemente então comandou a execução de milhares de templários. E a matança continuou por diferentes lugares em diferentes tempos, além de mulheres, homossexuais e pensadores livres também eram apanhados. Ás vezes ocorria de executarem centenas de vítimas em um só dia. O resultado de tudo foram milhões de pessoas assassinadas, em sua maioria mulheres. Com a liderança patriarcal, a mulher já não tinha mais nenhum valor, e passou a ser culpada por todas as desgraças, a pecadora que induz o homem ao mal. Como aconteceu com Helena de Troia, acusada por muitos de ser a causadora da guerra, da discórdia entre os dois reinos. Ou até mesmo Joana D'arc que ajudou a França na guerra dos cem anos a derrotar a inimiga Inglaterra e que depois foi acusada de bruxaria e por causa disso queimada na fogueira. Ou mais além, a pecadora Eva, induziu o pobre Adão a cometer o pecado e por isso foi punida junto às suas descendentes. A maldição caiu sobre nós mulheres. Mas não se trata de maldição divina ou algo assim, mas de maldição patriarcal, da intolerância dos homens, do ego machista e conservador. 


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